Nos bastidores dos corredores organizados e prateleiras bem abastecidas dos supermercados de Joinville, uma realidade silenciosa tem chamado a atenção de quem observa além do atendimento ao público: a exaustão emocional e psicológica vivida por muitos trabalhadores. Embora a cidade seja referência em desenvolvimento e qualidade de vida em Santa Catarina, há um abismo entre o discurso de modernidade e as condições relatadas por diversos profissionais do setor varejista, especialmente os que atuam em grandes redes supermercadistas. Esses relatos, colhidos de forma anônima para preservar a identidade dos entrevistados, apontam para um ambiente de trabalho marcado por pressão constante, metas inatingíveis e, em alguns casos, assédio moral disfarçado de exigência profissional.
Em entrevistas informais com ex-funcionários e colaboradores ainda ativos, ouvimos histórias de jornadas que ultrapassam o limite físico e emocional do corpo humano. Muitos relatam que, apesar da carga horária registrada oficialmente, há pressão constante para trabalhar além do combinado, sem a devida compensação ou reconhecimento. Há ainda queixas frequentes sobre o clima organizacional: gritos, ameaças veladas, punições por pequenas falhas e um sistema de metas que gera uma competição nociva entre colegas. “Não é só a cobrança. É a forma como ela é feita. A gente trabalha com medo, com ansiedade, achando que a qualquer momento vai ser chamado na sala pra ouvir bronca ou, pior, ser demitido”, relata uma funcionária que pediu anonimato por medo de retaliações.
Outro ponto alarmante é o impacto direto dessas condições na saúde mental dos trabalhadores. Muitos afirmam que, após algum tempo na função, começaram a sofrer de insônia, crises de ansiedade, problemas digestivos e até sintomas depressivos. Psicólogos ouvidos pela reportagem explicam que essa realidade não é exclusiva de Joinville, mas é agravada por uma cultura empresarial que valoriza produtividade a qualquer custo, mesmo que isso implique o adoecimento gradual de sua equipe. “Quando a empresa prioriza apenas o resultado, sem olhar para o ser humano que está por trás, ela contribui diretamente para o colapso psicológico dos seus colaboradores”, explica uma especialista em saúde ocupacional. A falta de acompanhamento psicológico, canais internos de escuta ativa e políticas claras de bem-estar são outros pontos que agravam o cenário.

Apesar dos relatos alarmantes, muitos trabalhadores continuam nesses empregos por falta de alternativas viáveis. Joinville possui um dos maiores polos industriais e comerciais do estado, mas o setor de supermercados ainda é uma das portas mais comuns de entrada para jovens e trabalhadores com menor escolaridade. Esse cenário acaba criando uma espécie de dependência silenciosa, onde o medo de perder o emprego fala mais alto que a necessidade de denunciar abusos. Ao mesmo tempo, há empresas que se destacam positivamente, buscando implementar programas de qualidade de vida, treinamentos humanizados e incentivo à saúde emocional. No entanto, essas iniciativas ainda são minoria e não refletem o padrão geral do setor, segundo as falas coletadas.
A intenção deste artigo não é difamar nem generalizar, mas sim lançar luz sobre um problema real e que precisa ser debatido pela sociedade joinvilense. É necessário que o setor varejista, especialmente o supermercadista, repense suas práticas e compreenda que trabalhadores saudáveis emocionalmente são também mais produtivos, engajados e leais. Enquanto isso não acontece, relatos como os ouvidos aqui continuam se acumulando, reforçando que, por trás de cada caixa registradora ou repositor de prateleira, há uma história de luta invisível — uma rotina pesada demais para ser carregada sozinha.